Mais verde e transparente

Mais verde e transparente

A transformação pelo qual deve passar o portfólio de matérias-primas da L’Oréal tem potencial para mudar radicalmente o cenário de pesquisa e desenvolvimento da indústria global de beleza no decorrer dessa década.

Atacada por alguns, valorizada e reconhecida por muitos, o papel da Ciência ganhou evidência midiática como há tempos não se via. Na disputa entre narrativas que movem esses tempos estranhos, o conhecimento científico baseado em muita pesquisa, estudos, dados e testes foi alvo de personagens que, sob o pretexto do livre direito de emitir opinião e sem querer qualquer imposição de limites (e não de restrição à liberdade de cada indivíduo) em nome de uma causa maior e muito mais grave –, passaram a atacar uma suposta “ditadura dos cientistas”. Tudo porque esses cientistas recomendavam aos governantes e a população – a partir das melhores evidências disponíveis no momento –, que se usasse máscara, álcool em gel, se mantivesse o distanciamento social e que serviços não essenciais fossem fechados ou restringidos por algum tempo. Tudo para mitigar os riscos relacionados com a disseminação do Coronavírus. Os impactos dessas decisões se fizeram sentir muito negativamente para uma enorme quantidade de pessoas e empresas de diferentes setores da economia, especialmente os mais pobres. Isso poderia ter sido resolvido de outro modo, como feito por diversos governos ao redor do mundo. A ciência não tem nenhuma culpa nisso. Mas, isso não vem ao caso agora.

O que preciso ser dito é que nesse momento de pandemia, a esmagadora maioria da população passou a enxergar a olhos nus a importância do papel da ciência na nossa sociedade.  

O papel da ciência é basilar na história centenária da L’Oréal, fundada por um pesquisador 110 anos atrás e que hoje é a maior fabricante de cosméticos do mundo com vendas anuais de mais de US$ 30 bilhões. 

Ao longo da última década, a companhia já havia transformado a sua cadeia de valor como forma de reduzir o seu impacto ambiental. Em paralelo, começou a apertar o passo na incorporação de matérias-primas e formulações mais sustentáveis e menos agressivas tanto à pele e aos cabelos quanto para o meio ambiente.

Para os próximos 10 anos, a L’Oréal que ir muito além. E uma nova abordagem científica será fundamental para que a gigante francesa siga oferecendo produtos com performance e segurança cosmética, ao mesmo tempo em que cumpra com suas ambiciosas metas ambientais. 

Ao estabelecer a essencialidade dessa mudança, parte da sua visão de “beleza do futuro”, a L’Oréal está engajando toda a sua poderosa máquina de pesquisa e inovação (R&I) em uma jornada de transformação na forma como ela pensa e desenvolve seus produtos de beleza, orientada para o que tem sido apresentado pela empresa como green beauty. “Vamos extrair o melhor da natureza por meio de processos seguros e eficientes de química verde. Podemos reconciliar a melhor performance com sustentabilidade e segurança”, acredita Nicolas Hieronimus, um veterano com quase 35 anos de empresa e que em maio assumiu o posto de CEO da companhia.

A L’Oréal vai se valer das ciências verdes para gerar a transformação no portfólio de matérias-primas utilizadas nas formulações dos seus produtos. As ciências verdes representam um conjunto de disciplinas que vão permitir cada vez mais a integração de matérias-primas renováveis ao seu portfólio e fazer o eco design de fórmulas, repensando-as para que sejam mais sustentáveis, biodegradáveis e com o melhor perfil socioambiental possível. 

“Faremos um tremendo progresso para obter o melhor da natureza, assegurando performance e utilizando materiais renováveis de forma sistematizada”, diz Laureant Gilbert, diretor de Desenvolvimento Sustentável da companhia. Para o executivo, a adoção das ciências verdes é essencial para ficar dentro das planet bounderies (fronteiras do planeta), meta estabelecida pela empresa e pela qual se compromete a extrair menos recursos da natureza para sua produção nos próximos anos em relação ao consumo atual, independentemente do aumento nas suas vendas. É a aplicação de um modelo de economia circular em larguíssima escala, desenhando produtos para minimizar o impacto do inicio do uso até o seu descarte. “É um jeito de desenhar produtos inspirado pela natureza, que por sua vez a mimetiza. Meu papel é garantir essa transformação sempre com performance cosmética e segurança”, reforça Gilbert.

Se o compromisso da L’Oréal com a sustentabilidade é genuíno e comprovado, a transformação pelo qual as formulações da empresa vão passar nos próximos anos também busca antecipar aos anseios dos consumidores. É também por isso que a empresa está revisitando seu modelo. 

“Estamos sempre buscando antecipar tendências e necessidades do consumidor”, acredita Gilbert e, para a L’Oréal, os consumidores buscam por fórmulas naturais com approach de biodiversidade e reponsabilidade socioambiental.  Isso leva a indústria a deixar de lado os ingredientes de origem petroquímica por ingredientes naturais de fontes renováveis. O programa da L’Oréal pretende alcançar 95% de ingredientes de origem biológica até 2030. “Temos a convicção de que vamos migrar para mais ingredientes de origem vegetal (plant based) sustentáveis. Estamos num esforço contínuo para evoluir com esses objetivos”, pontua Gilbert. Atualmente, 29% dos ingredientes utilizados nas formulações da L’Oréal, são oriundos de processos de química verde, outros 32% vem de ingredientes naturais ou de origem natural, 59% tem origem em plantas e 80% já são biodegradáveis.

A constatação, por si só não é nenhuma grande novidade. Milhares de marcas em diferentes países já enxergam isso e tantas outras já trabalham assim. O que realmente faz diferença nesse cenário são a capacidade e o impacto que a estratégia da L’Oréal tem sobre o restante do mercado. E a capacidade da empresa de desenvolver produtos que atendam essas novas disposições e sejam tão ou mais eficazes do que os que estão nas prateleiras atualmente. “Se você pedir para um dos nossos cientistas desenvolverem um produto que não seja, ao mesmo tempo, efetivo e sustentável, não vai significar nada para ele”, reforça o diretor de Desenvolvimento Sustentável do grupo francês. 

Com quase um bilhão de euros de orçamento e 4000 profissionais de 50 disciplinas diferentes espalhados por centros de pesquisa e inovação em quatro continentes, a operação de R&I da gigante francesa é uma máquina formidável, que gera 500 patentes por ano e que desenvolve a maior parte das suas principais tecnologias cosméticas dentro de casa – de testes clínicos alternativos até moléculas sofisticadas. “Sempre fomos muito fortes em ciência avançada e puxamos essas fronteiras para satisfazer aos anseios de beleza de bilhões de homens e mulheres de todo o mundo”, diz Barbara Lavernos, principal nome da área de R&I da L’Oréal e que em maio irá acumular o atual posto com a cadeira de CEO Adjunta, consolidando a posição da área científica no comando das estratégias da empresa. 

A chefe de R&I da L’Oréal afirma que o histórico expertise na ciência permitiu que a empresa caminhasse rumo à sustentabilidade e à transparência.  A jornada não começou ontem. Ela data ainda dos anos 1970, quando a companhia passou a trabalhar na reconstituição de peles humanas para poder evitar os testes em animais. Em 2005, a L’Oréal desenvolveu sua primeira molécula desenvolvida por meio de um processo de eco-design, o Pro-Xylane, ativo utilizado até hoje em produtos de marcas como La-Roche Posay, Vichy e SkinCeuticals.

Não adianta fazer e não externalizar

Aliado ao processo de transformação do pensar e desenvolver produtos a partir das ciências verdes, o outro pilar da visão de “beleza do futuro” da L’Oréal é a transparência que ela se dispõe a oferecer ao consumidor em relação à composição de cada fórmula, seus ingredientes e suas origens, tratando as informações científicas de forma clara e com muita transparência, se necessário, bancando a informação correta em detrimento da desinformação que anda solta pelas redes sociais.

“Entendemos que como líder do mercado de beleza e tendo mais de 100 anos de conhecimento sobre produtos e ingredientes, temos o dever de compartilhar parte desse conhecimento com os nossos consumidores e parceiros, estabelecendo um diálogo direto com os nossos consumidores e stakeholders para explicar o que a gente faz e como a gente faz”, explica Cristina Garcia, diretora de R&I e Assuntos Regulatórios da L’Oréal Brasil.

Parte central nessa nova política, a plataforma Inside our Products reúne as informações sobre as fórmulas, ingredientes e segurança que legitimam os produtos das marcas do grupo. A plataforma já está disponível em oito países e oito línguas. A versão em português, por dentro dos nossos produtos, trazia a ficha completa de 42 ingredientes (até o início de março), explicando de onde eles vêm, para que eles são usados, e às vezes, quando são controversos, explicar o porquê da controvérsia.

Na plataforma também é possível encontrar informações sobre a abordagem da empresa em relação à qualidade e a segurança dos produtos, além de uma área de respostas às perguntas mais frequentes recebidas e vídeos com os experts científicos da companhia  nos quais falam sobre o seu trabalho, como testam e para que serve cada ingrediente. O site também conta com um glossário com mais de 300 itens. “Sabemos que isso é só o começo. Nossa postura é humilde no sentido de que é o início de um trabalho. Vamos trazer mais conteúdo e vamos ter o retorno dos consumidores e de parceiros para enriquecer a plataforma”, acredita Garcia.

Em relação à sustentabilidade e a transparência, a marca Garnier foi a primeira do grupo a assumir compromissos específicos em termos de vegetalização, redução de uso de materiais e recursos naturais. Segundo Heranomius, isso será rolloutado para todas as outras marcas do grupo. 

Tal qual a transformação nas fórmulas para os próximos anos, a transparência também vem de encontro a um anseio cada vez maior do consumidor por saber o que está usando e qual o impacto que o seu consumo está gerando para o planeta. De acordo com Julia Sarri, diretora global de Consumer Insights da L’Oréal, impactados pela pandemia, os consumidores voltaram ao básico e colocam a segurança (cosmética) dos produtos como um ponto prioritário. Entre as prioridades desse consumidor que já vinha mais preocupado mesmo antes do quadro atual, informações sobre listas de ingredientes e fornecimento ético são mais importantes do que nunca. “Os consumidores estão mais conscientes. Isso significa que eles querem produtos que sejam bons para eles, mas também para o mundo”, pontua a executiva. 

Esses anseios dos consumidores precisam ser alinhados com o Compliance regulatório no mundo inteiro, além da própria segurança dessas novas formulações. “Nosso papel como líder é ajudar os consumidores a fazerem suas melhoras escolhas e quero reassegurar que faremos isso sendo transparentes e bancados pela ciência”, garante o novo CEO da L’Oréal.

Para aqueles que ainda tinham dúvidas sobre as mudanças que estão desenhadas para o futuro em termos de como a indústria de beleza deve se comportar, a estratégia da L’Oréal é um sinal de alerta. O que hoje ainda parece algo distante da realidade de muitas empresas, em algum momento nos próximos anos, se tornará o padrão. E, quem não estiver em linha com essa nova dinâmica, ficará fora do jogo.

 

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