Fornecedores: Abastecidos para a retomada

Fornecedores: Abastecidos para a retomada

Com raras exceções, a cadeia de abastecimento do mercado de beleza sentiu o baque da parada nos negócios gerada pelo coronavírus. Agora, os fornecedores começam a olhar para frente e planejar seus negócios para o próximo semestre


Os fornecedores de matérias-primas, fragrâncias e embalagens para o mercado de beleza são os primeiros a sofrer o impacto de crises de demanda. No caso do novo coronavírus, devido à velocidade com que o vírus se espalha, foi preciso dar respostas imediatas tão logo a OMS (Organização Mundial da Saúde) elevou o estado de contaminação global para o nível de pandemia. “Nossa primeira ação foi a de tentar dimensionar as consequências que a pandemia poderia ter para a empresa, com atenção especial para nosso pessoal e a preservação de sua saúde. Assim foi criado um plano de contingência, implementado home-office e todas as medidas de segurança necessárias na planta de produção, laboratórios e administração, seguindo recomendações ainda mais estritas do que as indicadas pelas autoridades. Para não correr riscos, decidimos dividir os turnos de produção para diminuir a possibilidade de contagio, higienizando todas as áreas entre a entrada e saída de cada turno com duas horas de diferença entre um e outro”, conta Michel Ulloa, Gerente Comercial de Fragrâncias da casa de origem chilena Cramer.

A criação de um Grupo de Gerenciamento de Riscos foi a primeira medida adotada pelo pessoal da AQIA, fabricante de ativos e ingredientes, para garantir a segurança de seus colaboradores, manter suas operações protegidas, apoiar a sociedade no enfrentamento à pandemia e agir de forma rápida e eficiente na implementação das ações necessárias.

De acordo com a Tatiane Ferreira Monteiro, gerente de marketing da empresa, também foi adotado o regime de home-office para todos os colaboradores e 90% dos postos administrativos da fábrica de Guarulhos, na Grande São Paulo. “Para os colaboradores da área produtiva, além de plantão médico, a empresa implantou protocolos de barreiras de proteção externa, interna e de emergência. Incluindo monitoramento de temperatura corporal das pessoas que acessam a unidade, reforço nos procedimentos de higienização e sanitização de todas as áreas, aumento de pontos de higienização individual, além do fornecimento de álcool em gel para uso pessoal de todos os colaboradores, que também contam com apoio psico-educativo e aulas de yoga online, duas vezes por semana”, completa.

Líder nacional no fornecimento de embalagens de vidro para os segmentos de perfumaria e cosméticos, a Wheaton também precisou tomar medidas rápidas e eficazes para se readequar sem parar a linha de produção. “Como fornecedores de embalagens de vidro para a indústria farmacêutica, uma das atividades industriais classificadas como essenciais, não poderíamos parar”. Explica Renato Massara Jr., Diretor Comercial e de Marketing do grupo.

Também seguindo as recomendações dos órgãos competentes, as atividades foram mantidas desde o início da pandemia e, para tanto, mais de uma dezena de medidas foram tomadas para evitar a possibilidade de contágio dentro da empresa, assegurando a saúde ocupacional de seus funcionários e colaboradores. “Profissionais do grupo de risco foram afastados das funções, sem prejuízo à remuneração; o trabalho remoto e o revezamento foram adotados para evitar aglomerações; as portas estão sendo deixadas abertas para evitar o contato com maçanetas; há um reforço geral na limpeza; os pontos de distribuição de álcool em gel foram aumentados e muito mais está sendo feito. Realizamos uma campanha de vacinação contra o vírus da gripe Influenza, que, apesar de não proteger contra o coronavírus, pode facilitar o diagnóstico e também distribuímos quatro mil frascos de álcool em gel para os profissionais da empresa levarem para suas casas e fornecemos máscaras de tecido conforme os padrões estabelecidos pelas autoridades sanitárias”.

Sentindo no bolso
Com um histórico de sucesso na área de perfumaria fina, a casa de fragrâncias Vollmens sentiu os primeiros impactos da pandemia já em março, com os primeiros cancelamentos de pedidos. “Já em abril observamos as vendas caírem muito pela parada do mercado de umaforma geral“, revela Natália Mendes, diretora de Marketing da Vollmens Fragrances.

A executiva chama atenção para o fato de que a companhia já vinha acompanhando o desenvolvimento da crise lá fora e que o time de criação da companhia estava focado, trabalhando em projetos proativos especiais para auxiliar seus clientes a oferecer as fragrâncias que seriam mais procuradas pelos consumidores neste período de priorização e resguardo da Saúde. “Já lançamos duas linhas de produtos, que foram sucesso imediato com os clientes e pretendemos continuar criando soluções para auxiliar as marcas e consumidores neste momento. Por exemplo, nossa linha Rituais traz duas coleções de fragrâncias: Cheiros que Cuidam e Cheiros que acalmam. A linha cheiros que cuidam traz fragrâncias com óleos essenciais ricos em propriedades terapêuticas e calmantes. A linha Cheiros que Acalmam surgiu de um estudo com o Óleo Essencial da arvore do Cipreste, que reduz os níveis de stress e aumenta a atividade das células imunes”.

Este abalo inicial também foi sentido por Marcelo Pereira Nunes, Diretor Comercial e de Desenvolvimento da Corel Embalagens. “Nosso faturamento foi praticamente à zero. Do que tínhamos para receber e foi entregue ainda antes da pandemia um grande numero de clientes não pagou e outra parte pediu para renegociar as datas de pagamentos. Em relação aos nossos fornecedores. conseguimos manter os pagamentos dentro dos prazos. Felizmente, ainda assim, conseguimos manter 100% de nossos colaboradores e não tivemos dispensa, só nos adaptamos às novas regras”, diz.

Assim como muitas empresas, a Corel precisou se reinventar para passar por essa primeira fase sem maiores prejuízos. “Tivemos lançamentos adiados, pedidos suspensos e cancelados. Mas começamos a fabricar máscaras descartáveis com o intuito de atender uma demanda interna nossa e do mercado”, completa.

Ruptura de abastecimento e o impacto cambial
Uma crise sanitária global como a causada pela pandemia de Covid-19, impacta de diferentes formas o setor de importação e exportação com novas regras para movimentação entre fronteiras e o direcionamento do serviço de transporte comercial voltado para itens mais críticos, como insumos médicos e materiais essenciais para o combate ao coronavírus, aumentando o risco de rupturas, além de um aumento nos preços dos serviços. Entretanto, ao menos até o momento, esse risco não se materializou.

Para Renato Massara, da Wheaton, pelo menos por enquanto, este quadro ainda não representa um problema. “No caso da Wheaton, não fomos impactados pelas questões logísticas ou desabastecimentos do mercado global de matérias-primas porque não dependemos muito de insumos importados para nossas atividades. As poucas matérias-primas que importamos não sofreram nenhum tipo de ruptura”.

Já no caso da Corel, a manutenção de um estoque de segurança de materiais importados foi o que impediu que a empresa viesse a ter problemas no que diz respeito a essa questão. Segundo Marcelo Pereira Nunes. “Não tivemos atrasos com os nossos fornecedores de matéria prima importada. Inclusive, conseguimos voltar a atender alguns clientes que haviam deixado de comprar com a gente para comprar no mercado exterior, quando começaram a ter dificuldades em se abastecer”.

Natália Mendes da Vollmens segue na mesma linha. “Para nós o mercado local e global está funcionando normalmente, nossas importações estão caminhando normalmente. Quando ocorreu o fechamento dos mercados na Índia e na China, os navios com nossas matérias primas já estavam em trânsito e não tivemos grandes problemas nos abastecer”.

Já o câmbio, um problema que já se apresentava antes da Covid-19 chegar ao Brasil, tem deixado o setor em estado de alerta. O real foi uma das moedas que mais desvalorizaram em todo mundo e o resultado dessa queda acaba sendo refletida nos preços de insumos e matéria-prima, praticados em dólar ou euros.

Para Michel Ulloa da Cramer essa é uma situação complicada. “Temos preços em dólar e outros em reais. Tentar repassar todo aos clientes é muito difícil. Pior ainda quando temos diferença de quase 50% entre o tipo de cambio do ano passado e o de hoje. Mas, naqueles casos em que as margens estão muito complicadas, nossos clientes têm sido muito compreensivos e estamos chegando a acordos que sejam bons para ambos os lados”.

Negociar com clientes e fornecedores também é a única solução possível para a Vollmens. “Estamos trabalhando com uma negociação da taxa de dólar junto aos clientes. Esse é um ponto muito complicado, pois é difícil fazer o repasse imediato para o cliente com um período de oscilação curto como o que tivemos ultimamente. Mas nossa tratativa é avaliar caso a caso a realidade de cada cliente, sempre buscando uma boa negociação”, diz Natália.

No caso da Wheaton, a alta do dólar pode até ter algo de positivo. “Não somos impactados fortemente pela questão cambial no caso das matérias-primas, pois a maior parte dos nosso insumos produtivos vem do mercado nacional. Do ponto de vista comercial, a variação da moeda nos torna mais competitivos em alguns projetos no mercado exterior, mas ainda temos o desafio de equilibrar com os custos logísticos para exportação”, opina Renato Massara.

Retomada e crescimento pós-pandemia
Apesar de, até o fechamento desta edição, o volume de casos de infecção por Covid-19 ainda não ter atingido o seu pico no Brasil, muitos dos entrevistados declararam estar sentindo uma melhora no desempenho do mercado no mês de maio em relação ao catastrófico mês anterior. Com muitos estados e municípios brasileiros dando início a uma abertura gradual do comércio, já parece ser possível começar a pensar numa retomada.

Mas, com muitos dos lançamentos de novos produtos que deveriam ter sido lançados no segundo trimestre adiados para o segundo semestre, torna-se inevitável questionar: até que ponto os estoques dos fornecedores estão preparados para atender toda a demanda que ficou reprimida e mais a atual?

Ao menos até aqui, os fornecedores do setor de beleza demonstraram estar se preparando para uma retomada, com planejamento rigoroso, baseando-se nas previsões do mercado interno brasileiro que apostam no segundo semestre, o mais tardar em agosto, o fim da fase crítica da pandemia.

“Continuamos com nossas atividades produtivas, pelo menos enquanto não houver recomendação contrária dos órgãos públicos. Nossos estoques acompanham o ritmo de vendas, com exceção de derivados de acrilatos, que vem apresentando oscilações em decorrência da alta demanda para a produção de álcool em gel. Então acho que não teremos dificuldade em reabastecer nossos clientes, quando a retomada vier”, declara Tatiane Ferreira da AQIA.

Tendo em vista o bom desempenho que o setor vinha tendo no início do primeiro trimestre e baseando-se no velho ditado que diz que depois da tempestade vem a bonança, é possível esperar algum crescimento para ainda este ano? Ou, pelo menos, fechamento sem prejuízos? A maioria de nossos entrevistados parece otimista.

“Procuramos manter o pensamento positivo”, diz Michel Ulloa da Cramer. “Ainda que possa ser ousado apostar em crescimento, pelo menos, prejuízo, ao que tudo indica, não vamos ter”.

Para a Wheaton, “de maneira geral, tínhamos uma perspectiva positiva de crescimento para 2020, mas os impactos da pandemia sobre os negócios de nossos clientes e do segmento de beleza como um todo comprometeu nossa previsão para os resultados deste ano. Como todo o mercado, trabalharemos para amenizar os impactos sofridos neste primeiro semestre, otimistas pela retomada gradativa nas entregas que temos observado desde maio. Além disso, é importante destacar a importância da diversidade de segmentos que atendemos, pois o mercado farmacêutico, item de 1ª necessidade neste momento, não foi tão fortemente afetado, e pudemos direcionar nossos esforços a atender este setor tão relevante à Wheaton”.

Natália Mendes, da Vollmens, é taxativa em seu otimismo. “Apesar desse segundo trimestre complicado, nós ainda avaliamos como um ano positivo. Temos uma perspectiva de retomada a partir de agosto. Acreditamos que o crescimento seja mais tímido, porém que ele ocorra sim”.

Que assim seja!

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